Aquele barulho chato, que a pessoa escuta e não entende de onde vem, afeta quase 15% dos brasileiros. Agora pesquisadores americanos estudam uma técnica capaz de silenciar o zum-zum em definitivo.
A origem da desordem... ...e como a nova técnica promete silenciá-la
1. A cóclea abriga células ciliares que captam as ondas sonoras e as transformam em impulsos elétricos enviados ao cérebro — é ali que o som é decodificado. Se algumas dessas células ficam comprometidas, suas vizinhas vibram em ritmo acelerado, disparando impulsos à toa, que são interpretados como um ruído. É o zumbido.
2. Eletrodos são posicionados no pescoço do paciente e emitem um estímulo que viaja até uma região do córtex cerebral responsável pela codificação dos sons. Reorganizados, os neurônios desse pedaço passam a ignorar as mensagens das células auditivas que estão fora de sintonia.
Se para boa parte da população o zumbido é só aquele apito que aparece no ouvido depois de sair de um show ou festa com música alta, para outra parcela ele é um transtorno. Isso porque, para quem sofre com a doença — chamada tinnitus —, tratase de um desconforto constante e que pode durar anos. Em 92% dos casos, o problema está relacionado à perda de audição. Já nos outros 8% ela não ocorre e, mesmo assim, essa gente toda padece com o piiiii incessante, para o qual ainda não há uma cura.
Na busca por uma solução, pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, induziram o zumbido em ratos, emitindo uma frequência sonora enquanto estimulavam com eletrodos o nervo vago dos roedores. Depois, fizeram o mesmo procedimento, mas desta vez se valendo de outras frequências. Os ratinhos, então, pararam de apresentar o incômodo, como se o cérebro tivesse sido reiniciado e voltado ao normal (veja o infográfico na página 47). "Trata-se de uma evidência de que o tinnitus é causado por uma atividade irregular do sistema nervoso", enfatiza o neurocientista Michael Kilgard, que participou do estudo.
É claro que a descoberta animou os que sofrem com o barulhinho nada bom. Mas os testes foram realizados em bichos que haviam acabado de desenvolvê-lo. "Por isso, talvez haja uma tendência de que a técnica, quando submetida a seres humanos, seja mais efetiva em quem tem o problema há pouco tempo", explica a otorrinolaringologista Tanit Sanchez, do Instituto Ganz Sanchez, em São Paulo, especializado no tratamento do tinnitus.
Enquanto a cura definitiva do zumbido não vem, o problema soa cada vez mais alto para a comunidade médica. Há um número crescente de jovens que se queixam do apito constante, principalmente de casos relacionados a lesões auditivas. "Aparelhos como iPod ou MP3 os expõem por horas a sons mais altos do que 85 decibéis", analisa Sandra Braga, mestre em fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e gerente da Audibel, empresa especializada em aparelhos auditivos. E, com o tempo, esse volume já é suficiente para provocar danos generalizados. Além disso, o fone de ouvido, tão querido pela moçada, manda todo o som diretamente para dentro da orelha, aumentando a probabilidade de encrencas.
Na busca por uma solução, pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, induziram o zumbido em ratos, emitindo uma frequência sonora enquanto estimulavam com eletrodos o nervo vago dos roedores. Depois, fizeram o mesmo procedimento, mas desta vez se valendo de outras frequências. Os ratinhos, então, pararam de apresentar o incômodo, como se o cérebro tivesse sido reiniciado e voltado ao normal (veja o infográfico na página 47). "Trata-se de uma evidência de que o tinnitus é causado por uma atividade irregular do sistema nervoso", enfatiza o neurocientista Michael Kilgard, que participou do estudo.
É claro que a descoberta animou os que sofrem com o barulhinho nada bom. Mas os testes foram realizados em bichos que haviam acabado de desenvolvê-lo. "Por isso, talvez haja uma tendência de que a técnica, quando submetida a seres humanos, seja mais efetiva em quem tem o problema há pouco tempo", explica a otorrinolaringologista Tanit Sanchez, do Instituto Ganz Sanchez, em São Paulo, especializado no tratamento do tinnitus.
Enquanto a cura definitiva do zumbido não vem, o problema soa cada vez mais alto para a comunidade médica. Há um número crescente de jovens que se queixam do apito constante, principalmente de casos relacionados a lesões auditivas. "Aparelhos como iPod ou MP3 os expõem por horas a sons mais altos do que 85 decibéis", analisa Sandra Braga, mestre em fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e gerente da Audibel, empresa especializada em aparelhos auditivos. E, com o tempo, esse volume já é suficiente para provocar danos generalizados. Além disso, o fone de ouvido, tão querido pela moçada, manda todo o som diretamente para dentro da orelha, aumentando a probabilidade de encrencas.
Mesmo o zumbido sem elo com perdas auditivas também é cada vez mais recorrente. Até um problema odontológico, por exemplo, pode desencadeálo. Pois é — a oclusão errada ou dentes apinhados demais podem incitar o tinnitus. "Toda força que fazemos com a dentição é enviada ao cérebro como uma informação a ser interpretada. Em algumas pessoas, esse impulso acaba sendo identificado como zumbido", explica o odontologista e ortopedista facial Gerson Köhler, de Curitiba, no Paraná. Por isso, é interessante fazer um checkup no dentista para prevenir a zoeira sonora.
Agora, quando nem a audição nem a boca estão prejudicados, é hora de ver se os exames de sangue não se encontram alterados. Afinal, problemas como colesterol alto, anemia, disfunções na tireoide e desequilíbrios nos níveis de açúcar também podem repercutir no ouvido. "Se o sangue que chega à cóclea, estrutura que transforma o som em impulso elétrico, estiver com taxas de algumas substâncias muito alteradas, ele não será adequado para alimentar as células auditivas", explica Rita de Cássia Guimarães, otoneurologista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Como o estrondo interminável tem diferentes causas, é preciso ter paciência na hora do diagnóstico. "Parei de trabalhar e de ir à faculdade. Estava no limite, tinha raiva do meu ouvido", afirma o estudante curitibano Thiago Marinho, de 24 anos, que convive com o ruído na orelha direita há seis meses sem saber ainda o que está por trás da chateação. Tentar esquecer é difícil, mas melhora a qualidade de vida, já que, segundo especialistas, a intensidade do zumbido aumenta de acordo com a atenção que se dá a ele.
De qualquer forma, é possível, sim, driblar o zum-zum interno. O uso de aparelhos auditivos auxilia os pacientes que têm dificuldade para ouvir. Afinal, a percepção adequada de outros sons desvia a atenção do alarido sem fim. Para pessoas com alterações metabólicas como anemia, o controle da alimentação é um dos grandes aliados. Além disso, o acompanhamento psicológico, em casos de muito estresse, também pode trazer bons resultados. O importante é não fugir do tratamento e assumir o controle da barulheira.
Agora, quando nem a audição nem a boca estão prejudicados, é hora de ver se os exames de sangue não se encontram alterados. Afinal, problemas como colesterol alto, anemia, disfunções na tireoide e desequilíbrios nos níveis de açúcar também podem repercutir no ouvido. "Se o sangue que chega à cóclea, estrutura que transforma o som em impulso elétrico, estiver com taxas de algumas substâncias muito alteradas, ele não será adequado para alimentar as células auditivas", explica Rita de Cássia Guimarães, otoneurologista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Como o estrondo interminável tem diferentes causas, é preciso ter paciência na hora do diagnóstico. "Parei de trabalhar e de ir à faculdade. Estava no limite, tinha raiva do meu ouvido", afirma o estudante curitibano Thiago Marinho, de 24 anos, que convive com o ruído na orelha direita há seis meses sem saber ainda o que está por trás da chateação. Tentar esquecer é difícil, mas melhora a qualidade de vida, já que, segundo especialistas, a intensidade do zumbido aumenta de acordo com a atenção que se dá a ele.
De qualquer forma, é possível, sim, driblar o zum-zum interno. O uso de aparelhos auditivos auxilia os pacientes que têm dificuldade para ouvir. Afinal, a percepção adequada de outros sons desvia a atenção do alarido sem fim. Para pessoas com alterações metabólicas como anemia, o controle da alimentação é um dos grandes aliados. Além disso, o acompanhamento psicológico, em casos de muito estresse, também pode trazer bons resultados. O importante é não fugir do tratamento e assumir o controle da barulheira.
- Ouvidos retreinados
Terapias sonoras costumam trazer bons resultados para pacientes com zumbido. A TRT, ou tinnitus retraining therapy, é a mais comum delas, e serve para quebrar a percepção negativa que a pessoa tem do zumbido. Ao ser exposto diariamente a um som neutro e agradável, o indivíduo atenua o incômodo com o ruído. "Ao longo do tempo, o cérebro vai entender que ele tem capacidade de focar em outros sons que não só o zumbido", explica a fonoaudióloga Sandra Braga. O tratamento geralmente dura de 18 a 24 meses.
- Um barulhinho nada bom
60% das pessoas com zumbido são afetadas emocionalmente, de diferentes maneiras. Em casos extremos, pensam até em suicídio
50% têm dificuldade para dormir, porque afirmam que o ruído fica mais perceptível ou intenso no momento em que estão em silêncio
42% têm problemas para desenvolver atividades que necessitam de concentração, como estudar ou ler um livro
14% são afetadas socialmente. Isso porque deixam de frequentar alguns lugares, como festas, por temer que o som alto piore o zumbido
50% têm dificuldade para dormir, porque afirmam que o ruído fica mais perceptível ou intenso no momento em que estão em silêncio
42% têm problemas para desenvolver atividades que necessitam de concentração, como estudar ou ler um livro
14% são afetadas socialmente. Isso porque deixam de frequentar alguns lugares, como festas, por temer que o som alto piore o zumbido
por MARIANA AGUNZI | ilustrações ÉDER R., ALOÍSIO C., LUIZ I.
A origem da desordem... ...e como a nova técnica promete silenciá-la
1. A cóclea abriga células ciliares que captam as ondas sonoras e as transformam em impulsos elétricos enviados ao cérebro — é ali que o som é decodificado. Se algumas dessas células ficam comprometidas, suas vizinhas vibram em ritmo acelerado, disparando impulsos à toa, que são interpretados como um ruído. É o zumbido.
2. Eletrodos são posicionados no pescoço do paciente e emitem um estímulo que viaja até uma região do córtex cerebral responsável pela codificação dos sons. Reorganizados, os neurônios desse pedaço passam a ignorar as mensagens das células auditivas que estão fora de sintonia.
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